segunda-feira, 22 de julho de 2013

“Curativos desnecessários"

Do Blog da Fernanda

Caminhava sozinha, era tarde da noite. As ruas estavam vazias, e eu andava a passos largos, queria logo sair daquele lugar. Estava um tempo abafado, mesmo que a estação que marcava no calendário fosse o inverno, estava quente para essa noite. Meu medo era que eu me arrependesse e voltasse la. Onde a dor fez sua morada, onde se eu "cavoucasse" mais, iria sangrar. A ferida estava exposta, nada se podia fazer a não ser, virar as costas e esperar o tempo passar e cicatrizar aquela ferida.

Eu saio corrida. Não olhei pra trás. Meu celular não parava de tocar, olhei, era ele. Já era tarde, eu já havia me decidido, não tinha mais volta. A situação estava insustentável, a dor estava me consumindo e o amor estava se esvaindo em sangue. Não existia cura para aquele mal, não existia medico capaz de receitar nada. Como voltar a confiar em alguém, que apunha-la teu coração, com palavras grosseiras. Com atitudes mesquinhas, com pessoas com falta de decência, era muita coisa. Muitas feridas concentradas no mesmo lugar. Quando uma estava se curando logo apareciam, mais machucados.

A opção era clara e certeira, era preciso optar. Em curar meu órgão, ou sofrer as consequências de um transplante, eu decidi salva-lo. Chega de maltratar, chega de dores, de apertos, de curativos e remendos, para algo que não teria mais solução. Sentia-me pequena, naquela cidade escura e silenciosa, entrei no primeiro táxi que encontrei e ali, somente ali desabei em lagrimas. Sabia que seria necessário esvazia-lo. Afinal ele estava sufocado de tamanha dor e tristeza, cheguei em casa, logo tratei de guardar no sótão todo e qualquer tipo de lembrança que pudesse me remeter, aos malditos dias de felicidade, de alegria, de amor. Eu sabia que isso era necessário, pois eu corria um grande risco de novamente, tentar fazer um curativo e com um sorriso no rosto, tentar viver.

Eu sei. Fui loucamente inconsequente quando optei em salva-lo. Quando decidi, ir ate a casa dele e pedir, que me esquecesse.  Que me odiasse que não me procurasse. E implorei para que parasse de causar essa dor que me consumia todas as vezes, que ele partia sem explicações e voltava com aquele sorriso, que preenchia qualquer vazio que existisse. Mas não é apenas de sorrisos, palavras e poemas que sobrevivem um amor. Demorei a perceber isso, foi necessário passar por isso, quase perde-lo para entender. Mas era necessário salvar o resto de vida, que eu tinha. Era necessário viver. Respirar e seguir enfrente sem ele. Eu precisava salvar meu coração, precisava, porque se eu insistisse naquilo, nem mesmo um transplante iria resolver, minha amargura. 

Agora deitada em minha cama, olho para o teto. E aos poucos tento me recompor. A dor ira persistir por um tempo, ainda iria rever algumas fotos, reler algumas cartas, e lembrar-me de alguns momentos. Mas o tempo ira cuidar e cicatrizar esse pobre coração. E eu sei, que um dia em algum lugar, alguém ira cuidar dele que já foi tão maltratado, tão judiado. Ira cuida-lo e ama-lo, assim cheio de buraquinhos. Ate esse dia chegar, vou tratar de cuidar, das outras partes que ficaram de lado. Nessa montanha russa que foi essa minha saga por um coração feliz.

Ainda bem, que sempre temos outro dia, outros momentos, e outras pessoas. Só não temos outro coração.

Fernanda Saraiva. 
Porto Alegre - RS - Brasil
http://sonhosdemeninamulher.spaceblog.com.br



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