sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Meu amigo Alfredo, o jardineiro.


Conheci um jardineiro por nome Alfredo, contou-me que na praça próxima d'onde residia cuidava de arvoredos. Mais por diversão, apenas parecia ser um brinquedo. Disse-me que tinha vindo por degredo de sua terra natal. Não quis entrar em detalhes, me disse apenas que foi nos tempos do Figueiredo. Como sabemos, foi no fim dos degredos, logo viria a anistia.

Este amigo mais  parecia um rochedo, de corpo avantajado, medo metia. Parecia um bruxedo de tão feio, mas tinha a alma respeitosa e cheia de segredos. Tinha grossos dedos, as mão calejadas curtidas e maltratadas, a terra cavava. Havia exterminado um praguedo do jardim que matara muitos recém plantados arvoredos.

Disse-me que o que mais gostava era sentir o aroma das flores. Alfredo, o amigo jardineiro, dos dedos calejados, fugido do degredo, mais parecia um arremedo, tamanha sua aparência e peso, com certeza as crianças tinham por ele respeito ou talvez medo. Sempre que passavam pela pequena praça, ao entardecer, antes do acender das luminárias, podiam ver entre as sombras, sua silhueta enorme e com certeza sentiam medo.

Pobre amigo Alfredo, o velho jardineiro, das mãos calejadas e grosso dedos, que adorava o perfume das flores do jardim que cuidava, matador de pragas injustiçado, degredado e anistiado, levava sua vida sem ferir ninguém. Foi encontrado deitado ao pé de um dos arvoredos que plantara. Sua existência havia terminado, daqui foi levado e deve esta cuidando de outros jardins a ele destinados. Em algum lugar na eternidade, quem sabe volte em forma distinta, quem sabe brote em meu quintal, na forma de arvoredo, coisa que mais gostava, assim como rosas. Espero aqui estar ainda quando ele voltar na forma adequada e poder ter forças para cuidar deste amigo tão simplório, tão cuidadoso, tão monstruosamente delicado.

Gerson Araujo Almeida


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