sábado, 27 de julho de 2013

Cultivando a alma, para a visita das borboletas


Do Blog da Fernanda

Estava cansada, precisava sair, respirar outros ares. Ficar aqui estava me angustiando a alma. Estava me deixando triste, e eu estava a cada dia mais me encolhendo. Estava sufocada, essa era a verdade. Andava com vontade de dar uns gritos. Para ver se eu conseguia com isso libertar meus demônios. Eu que sempre dentro do possível sempre fui correta, honesta. Nunca havia repetido um ano na escola. Não faltava as aulas. Não matava aula para namorar atrás da escola. Era de casa para escola e da escola para casa. Nunca havia experimentado maconha ou cigarros. Não havia bebido. Minha vida era toda certinha, corretinha, perfeitinha. Depois de adulta, trabalhava corretamente. Politicamente correta. Subi rapidamente de cargo, me esforçava muito na faculdade. Ótimas notas, a primeira da turma. Com 25 anos já tinha minha casa própria e meu carro. Pagos a longas prestações.

Ate ai, tudo certo. Mas nunca tinha vivido um grande amor, me sentia vazia, oca, sem nada. Sem sentimentos, sem dores, sem lembranças e nem mesmo decepções para compartilhar com alguém. Eu só falava e pensava em trabalho. Tinha poucas amigas, e quase todas namorando ou enroladas. E eu sempre ficava sem saber o que falar. Sempre me calava quando o assunto era esse.

Então eu resolvi fugir, viajar. Pedi demissão da empresa, mas meu chefe não aceitou disse que eu podia tirar umas férias e voltar. Eu disse que não teria data para voltar, e mesmo assim ele aceitou. Trabalhávamos juntos á 07 anos. Ele me conhecia um pouco e sabia que um dia ia acontecer isso. Que eu ia querer viver além de trabalho e estudos.

Fechei minha casa, peguei a mochila e fui, andei alguns dias, com fones de ouvidos escutando musica. Meu celular desligado, em vários momentos pensei em voltar para casa e em desistir. Mas não podia, sempre fui persistente, estava cansada das mesmas pessoas das mesmas conversas e das mesmas respostas. Uma vez na vida eu queria radicalizar, e viver a vida de braços abertos. Descobri tantas  coisas nesse tempo que fiquei longe de casa. Foram 3 meses viajando, conheci: Uruguai, Argentina, Paraguai, Bolívia e Peru. Algumas vezes a pé, outras de ônibus, trem e avião. Conheci tanta gente diferente e estranha, vi muita miséria e injustiça, vi muita riqueza e abundancia, conheci pessoas que não tinham nem um terço da educação que eu tive, mas tinha uma cultura tão rica que eu ficaria dias conversando e entendendo tudo que ela queria me dizer. Conheci religiões de todos os tipos. Seus cultos e seus significados. Aprendi a comer o que tinha, sem frescura. Algumas comidas eu adorei e ate peguei receita, outras eu passei mal e jurei nunca mais comer. Escutei musicas e músicos de todos os tipos. Gente engraçada, gente mais seria mas, cada um com a sua peculiaridade.

Isso tudo foi de uma riqueza tão profunda que me encheu a alma. Puxar assunto com as pessoas, eu que sempre fui tão tímida, aprendi a abrir a boca e falar, questionar. E com isso tudo que vivi, aprendi muitas coisas, que às vezes as pessoas não tem o que comer, mas repartem o pão, que às vezes tem muito, mas o egoísmo impede de dividir. Que sorrir todo mundo é capaz. Tem aquelas pessoas que não possuem um dente na boca, mas quando te sorriem, e o sorriso se torna tão bonito, porque vem da alma, que te fazem sorrir também. Que estudo é importante e muito, mas não é tudo, se você não tiver conhecimento, experiência. E isso você adquire de uma única forma, VIVENDO. Aprendi que existe apenas um Deus. A forma com que você chega ate ele não importa, se é rezando. 

Cantando, dançando ou cultuando, aprendi a respeitar a diversidade. Não somos iguais e muito menos perfeitos, respeite isso. Aprenda a conviver. O que você come nem sempre é o que você é. A necessidade faz a ocasião. Aprendi a comer com menos frescura, aprendi a primeiro comer, para depois dizer que não gosto. Musica é uma coisa que te anima ou te coloca para baixo. Depende de como você está. Mas de qualquer forma te alivia a alma.

E um grande amor... A gente não procura em baladas, em bares ou na internet. Ele vai acontecer quando tiver que acontecer. Você não escolhe, ele simplesmente acontece. E nisso tudo eu descobri que o lugar mais importante do mundo, onde eu devo me sentir seguro é onde eu me sinta acima de tudo, FELIZ. Por isso voltei para minha casa, mas voltei com outro pensamento, com outras ideias. Com outra cara e outra carga emocional, com muitas fotos. Com muita coisa para contar. Com uma alegria dentro de mim e uma felicidade de ter me encontrado em cada parte que passei. Por ter feito amigos queridos, e alguns para sempre. A internet hoje nos possibilita esse vinculo, mas cabe a nós cultivarmos.

Verdade. Nessa minha busca por viver e quem sabe encontrar um grande amor, em partes tive sucesso. O amor não foi encontrado mas, me encontrei. Encontrei tanta coisa, que a vida me trouxe de surpresa e é isso que conta. Agora em casa, de volta ao trabalho, mais humana e culta eu tento aplicar aqui algumas coisas que aprendi. Não só aqui mas na minha vida, quem sabe um dia o amor bata a minha porta.

Hoje, já não tenho mais pressa, só quero viver, me permitir aprender sempre. E saber que só em estar viva já é um presentão de Deus, o resto a gente corre atrás. Mas, menos do amor... Deixarei ele vir ate mim, sozinho e quando ele estiver pronto ele virá... A única coisa que posso e estou fazendo, é me modificar, me cuidar e me amar. Como um belo jardim, estou cuidando das flores para que as borboletas venham me visitar. Assim será o amor, me cultivando para que o amor também possa me visitar, gostar e acabar ficando.

Fernanda Saraiva
Porto Alegre - RS - Brasil
http://sonhosdemeninamulher.spaceblog.com.br



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