sábado, 9 de fevereiro de 2013

Rio prepara professores para mediar conflitos nas escolas

Ideia é reverter a cultura da violência e fazer os alunos valorizarem o diálogo nas favelas.

A secretária Cláudia Costin durante a aula inaugural que deu na Cidade das Artes, na semana passada | Foto: Divulgação

POR André Balocco

Rio -  Minimizar e reverter, dentro das escolas, o poder de autoridade que o tráfico exerce nas comunidades, pacificadas ou não. Com esta filosofia, a prefeitura capacitou 120 professores para mediar conflito em escolas, desde a disputa pela bola de gude até o local escolhido para sentar na classe. A ideia é mostrar aos jovens que, na nova realidade das UPPs, não se ganha mais nada na base do grito e que a escola é o modelo de mediação pacífica para a comunidade.

“Já treinamos todos os diretores e coordenadores pedagógicos das Escolas do Amanhã”, diz a secretária de Educação, Cláudia Costin. “O jovem, a criança que está numa área conflagrada, vê os conflitos serem resolvidos de forma violenta. Um conceito importante é a justiça restaurativa: eu causei um dano, tenho de ir lá e consertá-lo”.

Coordenadora da Oscip Parceiros do Brasil, que ministrou o curso na sede da prefeitura e depois nas Escolas do Amanhã, Gabriela Asmar explica que, com a capacitação, os professores se transformam em agentes reprodutores dentro das escolas. Lá, apostam nas crianças que mais se destacam para serem os conciliadores. Em dupla e já sem interferência dos adultos, elas sentam com as partes atrás da solução. “Os professores se espantam com a simplicidade e a importância do método. Muitos se perguntam como não perceberam isso antes”, diz.

“É um avanço”, diz a professora de português Viviane Couto da Silva, 33 anos, da Escola do Amanhã Teotônio Vilela, em Manguinhos, que acabou de ganhar uma UPP. “O curso foi um primeiro passo e serviu para dar uma noção geral”, continua ela, moradora da Maré, treinada na turma de 2012, após tomar contato com o projeto. Cláudia Costin diz que há um esforço concentrado para se construir um ambiente de paz e que a capacitação é mais um passo nesta direção. Segundo ela, há uma outra ‘menina dos olhos’ em andamento: um curso para desfazer traumas causados pela superexposição à violência.

Professora diz que objetivo não é julgar o aluno e pede mais estímulo
A política da Secretaria de Educação para as suas 155 Escolas do Amanhã — colégios em tempo integral que ficam em comunidades, pacificadas ou não — agrada à professora Viviane Couto da Silva. Mas, apesar de achar que a cidade está dando um passo à frente, ela defende um maior estímulo para que os professores possam se envolver mais.

“Acho que é preciso dar uma bolsa aos professores que fazem o curso”, defende ela. “Hoje, quando me dedico à mediação de conflitos, faço fora do meu horário de trabalho”, diz ela.

A paixão pelo projeto, no entanto, permanece. Viviane se envolveu fortemente com o sistema em 2012. De abril a outubro, a ONG Parceiros do Brasil entrou na sua escola, num projeto piloto, e formou professores e alunos, que trabalham em pares. “Ninguém julga ninguém neste processo. A ideia é escutar as partes, depois que o sangue para de ferver, e mostrar que é possível encontrar soluções”, encerra.

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